Entrada dos EUA na guerra causaria 'inferno na região', diz vice-ministro do Irã à BBC

  • 20/06/2025
(Foto: Reprodução)
Em meio ao conflito em curso, Saeed Khatibzadeh, das Relações Exteriores, alerta os Estados Unidos para não se juntarem à ofensiva israelense. Vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Saeed Khatibzadeh, alertou os EUA para que não se juntem à ofensiva israelense. Getty Images via BBC Em entrevista exclusiva à BBC, o vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Saeed Khatibzadeh, afirmou que, se os Estados Unidos se juntarem a Israel na ofensiva contra o Irã, haverá "um inferno em toda a região". ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp AO VIVO: Acompanhe as últimas atualizações do conflito Falando à jornalista da BBC Lyse Doucet, Khatibzadeh disse que, se o presidente americano Donald Trump decidir participar do conflito, será lembrado por ter entrado em "uma guerra que não era dele". Nesta quinta-feira (19/06), a Casa Branca anunciou que Trump decidirá nas próximas duas semanas se os EUA se envolverão diretamente na guerra. Mais de 270 pessoas ficaram feridas em Israel após o Irã disparar uma série de mísseis na quinta-feira, de acordo com o Ministério da Saúde de Israel. Um desses mísseis atingiu um dos principais hospitais no sul de Israel, causando danos extensos, segundo autoridades israelenses. Após o ataque ao Hospital Soroka, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, disse que o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, "não pode mais existir". Mas o Irã nega ter atacado o hospital e afirma que o ataque teve como alvo uma base militar próxima. Após uma primeira onda de ataques israelenses danificar a usina de enriquecimento de urânio de Natanz e matar importantes cientistas nucleares iranianos, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou que seu país agiu porque "se não for controlado, o Irã poderá produzir uma arma nuclear em um prazo muito curto". Abaixo, trechos da entrevista da BBC com o vice-ministro Saeed Khatibzadeh. Netanyahu justificou ofensiva afirmando que Irã pode produzir arma nuclear em 'pouco tempo'. Getty Images via BBC BBC - Foi noticiado que o presidente Trump aprovou um plano militar, mas ainda não decidiu se entrará na guerra. O que estão esperando em Teerã? Saeed Khatibzadeh - Estamos sob ataque. Um ato de agressão ocorreu. Estávamos engajados na diplomacia — lembre-se, estivemos juntos em Oslo, Noruega, quando a sexta rodada de negociações nucleares estava sendo planejada em Mascate, Omã. Estávamos prestes a chegar a um acordo. De repente, os israelenses decidiram iniciar um ato de agressão contra o Irã e partir para a ofensiva para sabotar todo o processo. As mensagens que recebemos dos americanos, mensagens secretas, indicam que eles não estão envolvidos e não estarão envolvidos. Mas as mensagens públicas que recebemos por meio dos tuítes e entrevistas do presidente Trump indicam claramente que os americanos estiveram presentes, participaram e apoiaram os ataques. BBC - O senhor mencionou mensagens secretas. O presidente Trump diz que os iranianos estão lhe dizendo que querem ir à Casa Branca, que querem negociar. O que mais lhe disseram? Que há uma saída para a guerra que está se intensificando? Khatibzadeh - O que está acontecendo agora é um ato de agressão. BBC - Vamos olhar para a saída do conflito. Já se passaram sete dias que os países estão se atacando. Khatibzadeh - Não, não, não estamos atacando mutuamente. Estamos nos defendendo. Trump diz que vai decidir ataque ao Irã nas próximas duas semanas BBC - Mas os senhores também estão atacando Israel. Hoje, atacaram um hospital, um hospital civil, enquanto miravam em um alvo militar. Khatibzadeh - Não, não. BBC - Há alguma maneira de acabar com esta guerra? Khatibzadeh - Lyse, este regime genocida iniciou a guerra contra o Irã. Eles nos atacaram. Atacaram nossos hospitais. Mataram nossos principais comandantes. Estamos agindo em legítima defesa, de acordo com o Artigo 51 da Carta da ONU. Continuaremos com essa legítima defesa até que o agressor aprenda a lição de que não pode simplesmente atacar outro país, outro país soberano. BBC - Khatibzadeh, o que aconteceria se o presidente Trump decidisse envolver os Estados Unidos na guerra? O Irã disse que todas as opções estão sobre a mesa. O que os senhores querem dizer com isso? Khatibzadeh - Acreditamos que esta guerra não é uma guerra americana, mas se eles quiserem se envolver, o presidente Trump será lembrado para sempre por uma guerra que não era dele, mas para a qual ele arrastou [o país]. Isso será um atoleiro, um inferno na região. BBC - Não é um risco enorme para o Irã? O Irã não é páreo para a maior potência militar do mundo, e o povo iraniano já está sofrendo muito. Khatibzadeh - Há uma unidade nacional, e o que estamos vendo agora é precisamente essa unidade nacional dentro e fora do Irã. Não se trata de quem tem a vantagem em termos de poder coercitivo. É uma questão de resistência. Resistiremos; é claro, a diplomacia sempre foi uma opção. O presidente Trump sabe melhor do que ninguém que estávamos prestes a chegar a um acordo. E um dos debates agora é que [Benjamin] Netanyahu, sabendo que estávamos prestes a chegar a um acordo, tentou sabotá-lo. Não quero julgar agora, mas o presidente Trump sabe disso melhor do que ninguém. Ataque israelense a um prédio da Rede de Notícias da República Islâmica do Irã. Getty Images via BBC BBC - O presidente Trump diz que havia um acordo que os senhores poderiam ter aceitado, mas não aceitaram. Existe algum acordo que os senhores aceitariam para evitar a guerra? Khatibzadeh - Não havia nada em discussão. Trocamos algumas mensagens e estávamos negociando algumas partes. Não estou aqui para entrar em detalhes. Posso lhe dizer quando tiverem tempo para entrar em todos os detalhes. Mas até o presidente Trump sabe que Steve Witkoff [enviado especial dos EUA para o Oriente Médio] está mandando mensagens para o nosso Secretário de Estado. E ele também sabe que, quando não estão no ar, você pode conversar com eles e entender que este regime genocida de apartheid de Israel sabotou a diplomacia por muitos anos. Hoje, justamente hoje, o diretor da AIEA [Agência Internacional de Energia Atômica] disse que não há evidências de que o Irã tenha desenvolvido ou tentado desenvolver nossa bomba nuclear. BBC - A AIEA diz que os senhores estão enriquecendo urânio a 60%, o que não é necessário para um programa nuclear civil, e muitos se perguntam por que estão enriquecendo urânio a um nível tão alto. Haveria a intenção de atingir 90% e desenvolver uma bomba nuclear. Khatibzadeh - Você não pode começar uma guerra com base em especulações ou intenções. BBC - Mas há uma preocupação. Khatibzadeh - Isso é um absurdo. Veja, Israel atacou, sendo um não-membro do TNP [Tratado de Não Proliferação Nuclear] e possuindo ogivas nucleares. O Irã não possui ogivas nucleares. O Irã é membro do TNP. A supervisão da AIEA está atualmente ocorrendo dentro do Irã, e eles [Israel] atacam nossas forças armadas, bem como nossas instalações nucleares. Esta é uma decisão muito, muito, muito ruim. Esta é uma ação terrível por parte dos israelenses, e a AIEA e outras organizações internacionais não a condenaram. É uma ação muito perigosa, porque a partir de agora, qualquer um pode atacar outros sob a supervisão da AIEA — isto é, instalações nucleares pacíficas. O que está acontecendo é uma ação muito perigosa por parte dos israelenses e, infelizmente, europeus e americanos não entendem que essa ação perigosa poderia facilmente criar um novo atoleiro em nossa região. Se os EUA entrarem no conflito, Trump 'será lembrado para sempre por uma guerra que não era dele', diz vice-ministro do Irã. Getty Images via BBC BBC - O senhor acha que a reunião na sexta-feira em Genebra [dos ministros das Relações Exteriores europeus com seus homólogos iranianos] pode ajudar a acalmar o conflito? Khatibzadeh - Sempre estivemos disponíveis para a diplomacia e esperamos que essa linha continue — mas isso é diferente de autodefesa, que é o que está acontecendo agora. Meu país está sob ataque e o agressor deveria aprender uma lição. Eles estão matando meu povo e nós resistiremos. Esta é uma resistência muito sagrada que está acontecendo agora contra as atrocidades e agressões que estão sendo cometidas contra meu povo. BBC - O que o senhor diz ao povo de Israel que agora está correndo para abrigos antiaéreos, que ouve o líder supremo iraniano dizer "morte a Israel", que quer destruir Israel? Essa é a ambição do Irã? Realmente querem destruir Israel? Khatibzadeh - Essas são suas palavras, Lyse, não as do nosso líder. Veja o que meu líder disse. Ele disse que não estávamos à beira de nenhum ataque militar ou de qualquer ação drástica contra ninguém. Todos sabem que esta guerra não foi provocada, que é desnecessária. Eles atacaram meu povo, atacaram nossos comandantes seniores. Mataram 63 crianças iranianas na primeira noite. BBC - Civis estão morrendo em ambos os lados. Khatibzadeh - Não. Quem começou esta guerra? Quem tem uma ogiva nuclear? Israel não é membro do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Israel tem centenas de ogivas nucleares. Israel iniciou esta ofensiva, esses são os fatos. BBC - O senhor poderia dar alguma garantia aos iranianos que estão fugindo para salvar suas vidas, que querem que esta guerra acabe? Khatibzadeh - No momento em que eles pararem com essas atrocidades, no momento em que o agressor aceitar sua responsabilidade de acabar com a impunidade dos israelenses, acho que será o momento em que toda a região poderá avançar. BBC - Então, você poderia confirmar que o Irã não tem intenção de desenvolver uma bomba nuclear? Porque essa é a grande pergunta que todos estão se fazendo. Khatibzadeh - Se quiséssemos uma bomba nuclear, já a teríamos antes. Vamos repetir que o Irã nunca desenvolveu nenhum programa para transformar nossas atividades pacíficas em armas nucleares, e nunca o fará.

FONTE: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/06/20/entrada-eua-na-guerra-causaria-inferno-oriente-medio-diz-vice-ministro-ira-bbc.ghtml


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